Lá estava ela, irradiando luz própria, sem maquiagem, sem
salto, sem vestido, sem disfarces, enquanto eu usava de todos esses artifícios
para me sentir um pouco aceitável. Tentei fugir, no entanto, não consegui.
Fiquei presa em seus olhos, que, cheios de certezas, me faziam ter vergonha de
ser quem eu estava sendo. Parecia impossível ficar frente a frente com alguém
tão oposta a mim, mas me forcei ao diálogo.
Conforme conversávamos, percebi que embora eu não a
procurasse, não havíamos nos perdido completamente. Nós nos completávamos. Se
ela tinha gana para encarar seus problemas de frente, em mim faltava coragem. Se
ela sabia o que queria, eu não fazia ideia de como seria o amanhã. Se nela o
riso era fácil, em mim o choro aflorava. Se nela o amor próprio derramava, em
mim ele sequer existia.
Embora eu não entendesse porque ela sorria tanto, aos poucos,
fui seduzida pelos seus risos. Lembrei do tempo em que nossa felicidade era
compartilhada e, durante uma de suas gargalhadas, eu quis de volta tudo aquilo
que tinha. Eu entendi que não devia ficar longe dela mais um dia sequer. Entre
lágrimas, pedi para ela não me deixar. Então, o espelho me encarou, e ela docemente
disse que não me deixaria mais ser a sombra de quem eu verdadeiramente sou.
Eu andava perdida, mas hoje eu transbordei de amor. Hoje eu
me reencontrei.