sábado, 3 de dezembro de 2011

Dançando e Compondo

Gosto quando duas pessoas se encontram e, como numa dança, tentam seduzir um ao outro através de gestos inconscientes. São dentes que teimam em aparecer no meio da conversa em forma de sorriso, olhos que se encontram e revelam todo o desejo velado, mãos que se tornam obsessivas por arrumar o cabelo e que insistem em encontrar o antebraço do receptor enquanto ambos falam sobre coisas banais... detalhes pequenos e instintivos para estes dançarinos.

O momento em que o outro fala torna-se música. Enquanto escuta a letra, os olhos constroem a melodia, formada pelo movimento dos lábios, gestos das mãos e pela paixão como ele defende o tema discutido.
Perdida na canção que compõe, o pensamento se esvai da conversa e ocupa-se de novos propósitos. Aqueles lábios que até alguns minutos atrás cantavam os versos de uma canção, viram desejo. Aquelas mãos e braços que gesticulavam tornam-se parte de uma fantasia que transcende o seu ser. Logo, todo o corpo do outro parece ter sido criado para te conduzir. Tudo o que você deseja é ele te propondo o ritmo.

O mundo fora dessa conjuntura deixa de existir. Ele só volta a ser notado quando um terceiro estabanado perde o passo e pisa no seu pé. Você desperta de sua extravagância, mas não a esquece.

A noite segue e, entre uma bebida e outra, o superego vai sendo diluído. Os sinais que já eram evidentes tornam-se ainda mais claros e, de repente, você percebe que sua mão sobre a mesa não está mais sozinha –  agora há a companhia da dele. Os dedos se entrelaçam naturalmente e assim ficam, dedilhando-se, como se estivessem aprendendo a tocar um novo instrumento musical.
A mútua dança da sedução agora é acompanhada por arranjos de uma música produzida por vocês. Já não existe uma música sua e dele, a composição é de ambos. E com esse novo passatempo, as horas passam ainda mais rapidamente.

Então, é fim de noite e agora sua mão sente-se confortável fazendo aquela canção. Ao que parece, as notas produzidas por suas palmas fazem um belo acorde.
Sem que você perceba, aquele devaneio anterior toma conta de si.
Tomada pelo cego desejo de fazê-lo real, você aguarda o convite para uma próxima música, que surge em forma de beijo durante a despedida. Um beijo lento e calmo, mas com pitada de selvageria, que te faz ter a certeza de que é esse o parceiro com o qual você quer dançar e compor vários outros ritmos.